terça-feira, 2 de outubro de 2012

E foi aqui que comecei a fazer as pazes com a comida...

...sim eu tinha uma relação doente com as refeições: achava uó ter que parar de brincar quando era criança para comer e adulta, não queria interromper meus escritos para me alimentar. Em suma: comer era saciar uma necessidade muito da chata. Não fazia a menor ideia como as pessoas diziam que uma das coisas que mais gostavam era comer. Eu pagava para não ter que fazer isso. Esquecia que tinha que por alguma coisa para dentro.
Mas o corpo é sábio: a gastrite veio me defender de mim mesma. E de três em três horas - muitas vezes menos, de duas em duas, o corpo está lá cobrando o que passei a vida negando: energia, combustível para continuar em frente.
Foi quando trabalhei na al. Santos com a Haddock Lobo e o pessoal fazia a maior propaganda do famoso indiano que ficava na Antônio Carlos com a Augusta. Tinham o cardápio por lá para convencer os mais ressabiados como eu a também encarar as filas, desde aquela época intermináveis.
Não me animava com as combinações que o cardápio entregue aos frequentadores anunciava. Lembrem-se: era uma xiita alimentar, se pudesse vivia de luz. Não me animaria com nada assim na teoria e à primeira vista.
Chegando lá tinham adesivos como "peixes são amigos, não comida", coisa que já ouvia dos professores de yoga, mas ainda soava fundamentalismo zen demais para o meu gosto. A vermelha foi a maior boiada - com o perdão do trocadilho infame - tirar da dieta, pois eu já ia em churrascaria por rodízio dar prejuízo para os amigos. Mas o peixe... Como já contei aqui, levou "quase uma vida".
Quando comi aquela alquimia que fazem com temperos que não conhecia... Tive uma experiência orgástica. Comi gemendo, rezando, me ajoelhando. Não por acaso, eles consagram os pratos às divindades - isso também faz toda a diferença, é uma comida abençoada. Lá não só comecei a curtir comer, como quis aprender - e cursos de culinária viva e vegetariana depois, cá estou eu, bancando retardatariamente a chef de mim mesma, corrigindo anos de vício lácteo e minimizando o que posso de sofrimento neste mundo - ao menos do animal não participarei mais...
Serei eternamente grata ao Gopala, relevarei suas filas, sentirei falta do tchai com especiarias e leite - opa, será que faço com leite de soja? Sentirei falta quando estudar e trabalhar longe, escutarei sua música para matar as saudades. É que a primeira vez em que a comida é significativa para nós, a gente nunca esquece!

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