quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Como cozinheira, sou uma ótima escritora...

Pelo menos já publiquei um conto e um resumo de uma das minhas peças pela Editora Guemanisse. Quer conhecer uma autora semi inédita de sucesso? Pergunte-me como. Como desconfio que mulher é uma eterna insatisfeita, decidi reformular a linha editorial desse blog. Ao invés de continuar enfatizando o como, darei preferência ao porque - sempre costuma ser o aspecto mais interessante quando contamos uma história mesmo! Mas ainda assim vou procurar dar mais ou menos o caminho das pedras, só que já vou avisando que sou uma lástima com números, ou seja, sem um medidor preciso em casa, como posso determinar quantos mililitros ou gramas foram numa receita? Como sou brasileira e não desisto nunca... Continuo a pedalar! Continuo a pedalar!
Neste feriado fiz uma maratona cinéfila que  começou vendo Querido John. Eu sei, o longa não condiz com uma pessoa cabeçóide como eu, mas tinha acabado de acordar e só queria "desopilar o fígado", como diz minha mãe. Pergunta se consegui? No fim, já estava chorando com aquele amor Quadrilha "João amava Teresa que amava Raimundo..." do Drummond que tinha nesta história. Fora que quando tem guerra no meio eu inevitavelmente fico descompensada. Com uma manhã destas eu tinha que pegar leve no almoço, certo?
Minha ex chefe diz que ela vai entrando no clima antes de escrever: põe uma música, vai sentindo a ideia chegar, depois é que senta no computador. Ainda quero experimentar um processo em suaves prestações assim. Comigo os textos derramam, aos borbotões. Mas cozinhar não. Tento entrar no clima com antecedência. Só que ontem queria aproveitar a sessão popular do Gay Caneca e de casa para lá tenho que pegar um cipó, uma balsa e um bonde e adoro uma culinária semi artesenal, então, estou praticamente sempre atrasada. Mesmo assim, escolhi trilha sonora para começar a pesquisar a receita. Confesso que não ouvi muito, pois rapidamente me apaixonei pelo inspirador Receitas Éticas recém descoberto e fui me ligando nos sons provocados pela alquimia lá na cozinha. Acha que consigo seguir alguma coisa à risca? Nunca tem os mesmos ingredientes em casa e minha imaginação é um barril de pólvora.
Lembrei que tinha comprado paella vegetariana na zona cerealista. E lá fui eu para a panela. Sei que confundo internautas menos afeitos ao fogão como tia Rita fazia com novatos de colher, mas juro que fui metendo na panela meio a esmo: as 100 gramas da paella que comprei no Armazén Paulista e não sei o que contém (a embalagem deles é tão específica quanto minhas instruções), pitadas de gersal, curry, coentro, zathar, Sabor a Mi sem pimenta e farinha de espinafre, um fio meio generoso de leite de coco, duas colheres de sopa de palmito, uma colherzinha de chá de alcaparras, um fio mais receoso de maionese, meia dúzia de rodelas de beterraba, cenoura, abobrinha, beringela e tomate (de cada um). Coloquei ainda meio copo d´água por lembrar do meu professor de espanhol ter feito uma vez e era quase uma sopa com mais consistência, mas como não sou fã de "comida boiando", peguei leve nos líquidos. Botei azeite generosamente também. Cozinhei uns trinta minutos em fogo médio, mas meu forno não é medida: ele está desregulado - já levou o dobro de tempo das recomendações online para temperatura semelhante. Deve ser verdade que se conselho fosse bom, ninguém dava a troco de banana e sim negociava a peso de ouro na Bolsa de Valores, mas se você quiser comer gemendo ao invés de imaginar como seria se estivesse próximo da foto da receita original, eu não arredaria pé de perto da comida antes de ficar pronta. A culinária é uma arte mais exclusivista que namorado ciumento: meia dúzia de minutos na pia ao lado para fazer o suco de laranja com couve e adoçante e a coisa já pode desandar. Vai por mim, sou Phd nisso: sempre quero vir escrever uma coisinha, por uma musiquinha, contar no Fuçabook qual o cheiro que enche minha casa. Aí, só oferecendo favores sexuais para virem experimentar!
Fui menos dispersa desta vez. Só dividi atenção com o suquinho, o esquenta da couve, strogonoff vegerariano e arroz integral no microondas e pronto: eu era toda sentidos para a paella. Mamãe ficaria boquiaberta, papai e 75% dos ex perguntariam se "a churrascaria mais próxima está chegando". Mas meu estômago que come rezando natureba, "mandou bala" gemendo. TINHA GOSTO E ERA BOM! Após acender uma vela à Santa Glutona em agradecimento, fui processando as memórias e vim para cá contar com 24 horas de margem de segurança (não, não deu piriri). Gozado, a música para fazer é uma, mas para lembrar e contar, é outra. E esta sonzera anos 80 me lembra aborrescência, carro da tia que ainda me dava enjôo (só algumas montadoras detém esta exclusividade), ela me fazendo apaixonar também pela Madonna e, de quebra, matar preconceitos hereditários ainda no ninho, além de aprender inglês divertidamente.

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